Homilia seleta a Gl 4, 4: sobre quais são os sentidos dos ditos "plenitude dos tempos" e "Lei", dos quais fala o Apóstolo neste versículo.

Homilia seleta a Gl 4, 4: 
Sobre quais são os sentidos dos ditos "plenitude dos tempos" e "Lei", dos quais fala o Apóstolo neste versículo.
PREFÁCIO:
A fim de explicar o que significam os ditos "plenitude dos tempos" e "Lei" do quarto versículo do quarto capítulo da Epístola aos Gálatas do Apóstolo, trago à luz a presente homilia seleta.
A divisão da exposição será a seguinte:
I. Apresentação do texto;
II. Explicação dos sentidos dos ditos;
III. Exposição homilética integral de Gl 4, 4.
HOMILIA SELETA A GL 4, 4: 
Quais os sentidos dos ditos "plenitude dos tempos" e "Lei", dos quais fala o Apóstolo neste versículo?
I. Apresentação do texto:
"Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei."
(Gl 4, 4)

II. Sentidos dos ditos "plenitude dos tempos" e "Lei":
Caríssimos irmãos e irmãs, quando dou testemunho do que acabamos de ouvir da lição apostólica, a saber, acerca das duas gerações de Nosso Senhor Jesus Cristo, percebo qual é o teor da mensagem paulina deste versículo.
A primeira geração é a divina, expressa pelo bem-aventurado São João Evangelista nestes termos: 
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus."(Jo 1, 1)
A segunda geração é a humana, expressa pelo bem-aventurado São Mateus Evangelista nestes termos: 
"Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo."(Mt 1, 18)
Respeitante à primeira, diz Santo Agostinho, o Doutor da Graça: 
"Há dois tipos de geração de Nosso Senhor Jesus Cristo, uma divina, outra humana.... Considera a primeira geração: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus." O Verbo de quem? O Verbo que o Pai possui. Qual Verbo? O próprio Filho(o Filho em si mesmo). O Pai nunca esteve sem o Filho; e mesmo assim quem nunca esteve sem o Filho gerou o Filho. Ele duplamente gerou e ainda assim não começou a fazê-lo. Não há princípio para Aquele gerado eternamente(sem princípio). Não obstante, Ele é Filho e ainda assim gerado. Um mero humano dirá: "Como Ele é gerado e mesmo assim não possui um princípio? Se Ele não tem um princípio, como Ele foi gerado?" Como, eu não sei. Estás perguntando a um simples humano como Deus foi gerado? 
Sou superado pelo seu questionamento, todavia, eu respondo com o Profeta(ou apelo ao Profeta): "Sua geração quem a pode expressar?" (AGOSTINHO, Santo. Tradução do Sermão 191, 1; ACC on John 1-10, p. 35)
Portanto, irmãos, nas duas gerações denota-se a plenitude dos tempos, pois "quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho", o mesmo que diz São João Evangelista ao falar da Encarnação do Verbo Divino: 
"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade." (Jo 1, 14)
"Que nasceu de uma mulher", o que São Mateus Evangelista significa ao dizer: "Eis como nasceu", etc(Mt 1, 18).
"E nasceu submetido a uma lei", o que o bem-aventurado varão apostólico São Lucas Evangelista significa ao narrar o episódio da Apresentação de Nosso Redentor e da Purificação da Santíssima Virgem nos seguintes termos: 
"Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor,
conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13,2);
e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos."(Lc 2, 22-24)
Numa e noutra geração a plenitude dos tempos está significada.
Mas, afinal: o quê é a plenitude dos tempos? 
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina no número 484:
"A Anunciação a Maria inaugura a «plenitude dos tempos» (Gl 4, 4), isto é, o cumprimento das promessas e dos preparativos. Maria é convidada a conceber Aquele em quem habitará «corporalmente toda a plenitude da Divindade» (Cl 2, 9). A resposta divina ao seu «como será isto, se Eu não conheço homem?» (Lc 1, 34) é dada pelo poder do Espírito: «O Espírito Santo virá sobre ti» (Lc 1, 35)."
Portanto, a "plenitude dos tempos" é o cumprimento das promessas e das preparações, a saber, cumprimento este dado em Nosso Senhor Jesus Cristo, como Ele mesmo diz de si:
“Não julgueis que vim abolir a Lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição." (Mt 5, 17)
Veio para cumprir e, de fato, cumpriu.
Não há como falar desta plenitude dos tempos sem remetermo-nos à profecia do bem-aventurado Profeta Isaías: 
"Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco."
(Is 7, 14)
Já no Novo Testamento, na Nova Aliança, comenta São Mateus que havia se cumprido esta profecia quando no nascimento de Cristo:
"Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo.
José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.
Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.
Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta:
Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14), que significa: Deus conosco." (Mt 1, 18-23)
Portanto, São Paulo ao narrar a plenitude dos tempos, narra a geração humana de Cristo realizada em sua concepção temporal.
Já quanto ao termo "Lei" que vai dito neste versículo, penso ser a que está no verbete nomos(n. 3551, sentido 1b) do léxico Strong James:
"1b) da lei mosaica, e referindo-se, de acordo ao contexto, ao volume da lei ou ao seu conteúdo."
Penso que no contexto de Gl 4, 4, refira-se mais propriamente ao contexto e conteúdo da Lei Mosaica.
III. Exposição homilética integral de Gl 4, 4:
"Mas", isto é, contudo, "quando veio a plenitude dos tempos", o cumprimento das promessas e das preparações, "Deus enviou seu Filho", entenda-se o mesmo que "o Verbo se fez carne"(Jo 1, 14), a saber, o Verbo Divino foi enviado por Deus Pai em forma humana para a redenção da humanidade, "que nasceu de uma mulher", de uma mulher?
 Sim, mas não pensemos que de uma mulher qualquer, como dizem alguns detratores da Santíssima Virgem, nasceu da Virgem mais pura e imaculada possível, de modo que ela concretizou a plenitude dos tempos com o seu:
 "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a tua palavra." (Lc 1, 38)
"E nasceu submetido a uma Lei", compulsoriamente?
 Não. Por vontade própria? Sim.
O episódio da Apresentação(Lc 2, 22-24) confirma esta submissão voluntária de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por fim, diga-se que o Apóstolo não quis menosprezar a Santíssima Virgem ao chamá-la mulher, mas apenas designar o sexo e que havia nascido de verdadeira, íntegra, plena mulher.
Aquela que realizou pela plenitude de graças(Lc 1, 28), o que Eva perdera no Paraíso por soberba.
CONCLUSÃO:
São estas, irmãos, as poucas considerações que quis tecer para vós nesta homilia seleta acerca deste passo do Apóstolo.
Fiquem com Deus, que Deus abençoe todos vocês.
Penso que será de muita valia para o desenvolvimento da homilética futura.








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