Homilia seleta de Natal(Gl 4, 4; Jo 1, 1. 14; Jo 10, 30): Sobre a importância teológica da Encarnação do Verbo e de que modo isto mudou todo o curso da história.

Homilia seleta de Natal(Gl 4, 4; Jo 1, 1. 14; Jo 10, 30):
TEMA DA HOMILIA SELETA:
Sobre a importância teológica da Encarnação do Verbo e de que modo isto mudou todo o curso da história:
Prefácio à homilia seleta de Natal(Gl 4, 4; Jo 1, 1. 14; Jo 10, 30):
Resolvi fazer esta homilia seleta por ocasião do dia em que celebramos o Natal do Senhor, isto é, hoje, dia 25 de Dezembro.
Hoje todas as casas estão adornadas com árvores de Natal, presentes, quiçá até mesmo um presépio.
Todavia, será que estamos realmente preparados, espiritualmente falando, para receber o Verbo Divino e Encarnado (Jo 1, 1. 14), o Pão dos Anjos(Mc 14, 22; Lc 22, 19; I Cor 11, 24) e o próprio Menino Deus(Mt 1, 18-25; Lc 2, 1-21)?
Meditemos um pouco neste mistério a modo de prefácio; muitas pessoas embora confessem Cristo de boca, não agem em conformidade com a sua Vontade no Natal: com efeito, elas brigam - contrariando o Pacificador, desrespeitam o próximo - contrariando Deus que em seu segundo preceito da Caridade, diz: "amai ao próximo como a ti mesmo"(Lv 19, 18; 19, 34), contrariando às vezes até o mesmo o preceito dominical faltando à Santa Missa aos Domingos, solenidades e festas de guarda; em suma, contrariando a tudo aquilo que se refere à amizade com Deus e à uma boa relação pessoal com o Deus Uno e Trino.
E Deus? 
Como Ele nos responde?
Com ingratidão? 
Com ódio? 
Com desprezo pela nossa vileza, miséria (para com seu amor) e indiferença para com Ele?
Não!
Deus jamais nos trata como exigem nossas faltas, assegura isto o bem-aventurado Rei e Profeta Davi nos seguintes termos:
"Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos castiga em proporção de nossas faltas,
porque tanto os céus distam da terra quanto sua misericórdia é grande para os que o temem;
tanto o oriente dista do ocidente quanto ele afasta de nós nossos pecados." (Sl 102, 10-12)
Igualmente que mesmo que o peso de nossas faltas nos oprima, Deus perdoa todas elas:
"Oprime-nos o peso de nossas faltas: vós as perdoais." (Sl 64, 4b)
Deus está sempre pronto a perdoar nossas faltas e não nos pune como exigem nossas faltas.
Portanto, neste dia de Natal, que possamos não ser hipócritas, mas que ajamos em conformidade com a Vontade Divina(Lc 1, 38b) e deixemos que Deus nos purifique de toda inquidade(I Jo 1, 9), assim seja, amen.
Homilia seleta - sobre a importância teológica do mistério da Encarnação do Verbo e de que modo isto mudou todo o curso da história:
I. Gl 4, 4: "Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma Lei."
1. Importância teológica do mistério da Encarnação do Verbo:
O dizer do Apóstolo acima sumariza a importância do mistério da Encarnação do Verbo, a saber, que Deus se fez homem para a nossa redenção em favor dos que temem a Deus.
Diz "mas", com efeito, este "mas" durou 4000 anos desde os Patriarcas até o último dos Profetas do AT, a saber, São João Batista, precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo; após isto, Cristo veio - e por onde veio? 
Primeiramente, veio pelo envio de Deus Pai, que o enviou à Terra para a redenção dos pecadores; secundariamente, veio, após a virtude do Espírito Santo ser infusa no ventre da Santíssima Virgem Maria, Ele nasceu e veio por meio do ventre do refúgio dos pecadores.
"Quando veio", e quando veio o Verbo Divino?
Quando Deus Pai o enviou à Terra e quando Ele nasceu por obra do Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, conforme professamos no símbolo apostólico.
Mas este mesmo Verbo Divino: veio Ele por obrigação?
Ele era obrigado a nos redimir?
Não!
De modo algum!
Afaste-se de nós tal nefasto pensamento.
Ele veio por misericórdia, amor e condescendência para conosco, com a nossa condição vil e miserável de pecadores como resultado do que tinha acontecido após o pecado original de nossos primeiros pais, o qual denomina-se pecado original, porquanto proveniente do próprio Adão transmite-se a todos os seus descendentes, não por imitação, como erroneamente pensava Pelágio e corrigiu-o Santo Agostinho, mas por geração natural - isto é, desde o primeiro instante de nossa conceição, quando Deus infunde-nos a alma.
O Filho de Deus(Jo 1, 1. 14; Jo 10, 30), portanto, veio ao Cosmos, à Physis para salvar toda a humanidade - vede também a imensa benignidade de Nosso Deus: não contentou-se Ele em dar-nos apenas um Messias puramente humano para nos redimir, como pensavam os judeus que assim seria(até porque isto seria impossível, como explicarei adiante), mas deu-nos seu próprio Filho para a remissão de todos os nossos pecados(Jo 3, 16).
Seria impossível que um Messias puramente humano redimisse a humanidade inteira, porquanto um autêntico mediador precisa ter ambas as naturezas, isto é, humana e divina - tendo um Messias humano apenas uma das naturezas, impossível seria que fosse efetuada a redenção da integralidade da humanidade.
Tendo isto em mente, Deus Pai enviou seu Filho possuindo ambas as naturezas(humana e divina) para ser feito perfeito mediador entre Deus e os homens, "vero Deus et homo", isto é, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o mesmo Apóstolo consigna bem qual seja o gênero e objeto da mediação crística em sua primeira epístola a Timóteo(I Tm), diz ele: 
"Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem
que se entregou como resgate por todos." (I Tm 2, 5-6)
São Paulo fala de uma mediação de redenção, isto é, de salvação, não de uma mediação intercessória como objetam alguns protestantes vulgares contra a doutrina da intercessão dos santos ao proclamarem este passo do Apóstolo(I Tm 2, 5) como sendo contrário à intercessão dos santos.
Portanto, veio o perfeito mediador.
E agora?
Que faremos?
Mudemos verdadeiramente de vida, uma verdadeira conversão(metanoia, μετανόηα), para dizer em poucas palavras e no dizer do Evangelho: 
"Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus.
Fazei penitência, pois o Reino dos céus está próximo.
Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”.
(Mt 3, 2b; Mt 17b; Mc 1, 15)
Todos estes ditos são de Cristo, com exceção de Mt 3, 2b, razão pela qual São João Batista também pregava a penitência e o batismo para a remissão dos pecados(Mc 1, 4; Lc 3, 3).
"A plenitude dos tempos", noutra homilia seleta(cf. Homilia seleta a Gl 4, 4: sobre quais são os sentidos dos ditos "plenitude dos tempos" e "Lei", dos quais fala o Apóstolo neste versículo, II. sentidos dos ditos "plenitude dos tempos" e "Lei"), já expliquei o quê seja esta plenitude dos tempos da qual fala o Apóstolo, disse que era, citando o CIC: "o cumprimento das promessas e das preparações"(CIC 484).
Aqui proponho uma nova exposição homilética acerca deste dito, ei-la: a plenitude dos tempos é a consumação do mistério da Encarnação do Verbo Divino e a concretização da consorciação perfeita entre Deus e o homem, sobre o primeiro:
I. É a consumação do mistério da Encarnação porque o Verbo Divino veio, redimiu-nos a todos e cumpriu a Vontade do Pai, dando até mesmo seu Corpo sacratíssimo como oblação total de sua humanidade e divindade;
Sobre o segundo:
II. É a concretização de uma consorciação perfeita entre Deus e o homem, porque descendo o Verbo Divino assumiu para si nossa carne(Jo 1, 14) e, deste modo, tornou-se perfeito homem, concretizou em sua natureza humana  a verdadeira essência do ser humano, por fim, como diz uma Oração do Ofício de Nossa Senhora: "para que o homem suba às sumas alturas", para que suba ao Céu Empíreo, desce Deus dos céus", isto é, encarna-se, "para as criaturas", para os seus(Jo 1, 11b).
"Deus enviou seu Filho", Deus manifestou seu amor a nós dando-nos seu Filho Unigênito para a nossa redenção.
Portanto, adoremos neste dia de Natal ao Divino Infante que benigna e misericordiosamente aceitou fazer a Vontade do Pai e morrer no madeiro da cruz em expiação de nossos pecados(I Pd 2, 24), "uma vez que Cristo doou-se todo por nós, devemos nós também doarmo-nos todo a ele, para que assim a obra de santificação e deificação esteja completa."(Epístola de Allan ao amigo Davi, capítulo 2 - ser de Cristo e não voltar jamais)
Se Cristo morreu por nós, dando-nos sua própria vida, isto é, sua própria alma, nada nos deve ser tão árduo que não possamos entregar-Lhe qualquer coisa: nossas angústias, nossos medos, inseguranças e, se preciso for, assim como Ele, nossa própria vida.
Cristo certa vez disse: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos." (Jo 15, 13)
Cristo fala aí, literalmente, de Si mesmo, mas, anagogicamente, tal dito representa todo fiel que tem a obrigação de depositar sua vida e entregar-se inteiramente a Ele por meio da oração, da vida sacramental, eclesial, intelectualmente ativa, espiritualmente contemplativa, etc.
"Que nasceu de uma mulher", 
Ó "mulher da espera confiada"!, vós sois cheia de graça(Lc 1, 28) e verdadeira Mãe de Deus(Jo 2, 1; Jo 2, 3; At 1, 14), a mulher que com o auxílio divino venceu o demônio(Ap 12), desta feita: quando o Apóstolo diz "que nasceu de uma mulher", a rigor quer indicar o sexo e o caráter distintivo da progenitora.
Era prescindível que dissesse o nome, pois todos sabiam que Cristo havia nascido da Santíssima Virgem, portanto, onde é dito, "que nasceu de uma mulher", leia-se: "que nasceu de Maria(Santíssima Virgem)", transmito aqui o que eu disse em minha outra homilia acerca deste passo: "que nasceu de uma mulher, de uma mulher?

 Sim, mas não pensemos que de uma mulher qualquer, como dizem alguns detratores da Santíssima Virgem, nasceu da Virgem mais pura e imaculada possível, de modo que ela concretizou a plenitude dos tempos com o seu:

 "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a tua palavra." (Lc 1, 38)"
(cf. Homilia seleta a Gl 4, 4: sobre quais são os sentidos dos ditos "plenitude dos tempos" e "Lei", dos quais fala o Apóstolo neste versículo, III. Exposição homilética integral a Gl 4, 4)
"E nasceu submetido a uma Lei", a rigor: qual Lei? 
A Lei judaica, a Lei de Moisés ou Mosaica, a qual Jesus obedecia não porque enquanto Deus devesse obedecer aos homens, com efeito, São Pedro e os santos apóstolos disseram: "Pedro e os apóstolos replicaram: "Importa obedecer antes a Deus do que aos homens."(At 5, 29), de igual modo, Deus nada deve à Lei positiva ou humana, se Ele a obedece é por pura apropriação do nosso modo de costume, por consentimento voluntário.
Jesus, enquanto Deus, não tinha obrigação de obedecer à Lei humana nenhuma, contudo, enquanto homem, era louvável, prudente e virtuoso: e sendo Jesus digno de louvor, prudente e virtuoso, assim o fez, como demonstra o episódio da Apresentação do Senhor e da Purificação da Santíssima Virgem Maria(Lc 2, 22-24).
Aqui finaliza-se a exposição homilética a Gl 4, 4, vamos agora expor homileticamente a Jo 1, 1. 14 e Jo 10, 30, agora sobre o tema de como o mistério da Encarnação do Verbo mudou o curso da história natural(positiva) e sobrenatural(economia da salvação).
De que modo a Encarnação do Verbo mudou todo o curso da história(natural - positiva/sobrenatural - economia da salvação):
II. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.
Eu e o Pai somos um." (Jo 1, 1. 14; Jo 10, 30)
2. De modo que isto(o mistério da Encarnação do Verbo) mudou o curso da história:
Entremos agora, caríssimos irmãos e irmãs a expor de que modo isto mudou todo o curso da história humana natural e sobrenatural.
Todavia, primeiro relacionaremos este tema com os versículos supracitados.
Este princípio do Evangelho segundo São João tornou-se célebre e ganhou por alguns, até mesmo o título(isto é, todo o Prólogo, no caso - Jo 1, 1-18) de Metafísica cristã; contudo, esta é  outra questão, não divagaremos aqui.
Principia assim: "no princípio era o Verbo".
No princípio? 
Em qual princípio?
Temporal?
Sucessivo?
Contínuo?
Mutável?
Não! Nenhum destes!
São João Evangelista está aqui a falar sobre um Verbo ou Logos(λόγος) que reside com Deus desde a eternidade, desde de todos os tempos.
Isto nos conduz à questão: como se define "eternidade"?
São Severino Boécio, como relata São Tomás(ST, I, q 10, art 1) define-a assim: "a posse inteiramente simultânea e perfeita de uma vida interminável".
São Tomás analisa-a pormenorizadamente nesta questão e artigo da Suma Teológica(ST) a qual citei acima, não é o caso de explicarmos aqui o mesmo.
Basta-nos esta explicação acerca da definição.
Os sentidos próprios de arkhé, são, segundo o léxico Strong James(verbete arche, G746, sentidos próprios 1 e 3):
"1) começo, origem;
3) aquilo pelo qual algo começa a ser, a origem, a causa ativa."
Portanto, o Verbo estava na origem de tudo, mas desde a eternidade, coeterno que era com o Pai, como veremos à frente, "aquilo pelo qual algo começa a ser, a origem, a causa ativa", o Verbo é origem e causa ativa, pois, segundo o próprio São João Evangelista estava no princípio(Jo 1, 1) e tudo foi feito por meio D'Ele e sem Ele nada foi feito(Jo 1, 3).
O Apóstolo acresce o seguinte, falando da sua consubstancialidade identitária e essencial com Deus: "Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a Criação."(Cl 1, 15)
E diz algo que corrobora Jo 1, 3:
"Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele." (Cl 1, 16)
E corroborando que o Verbo era desde o princípio e que todas as coisas subsistem N'Ele, como em Jo 1, 1:
"Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele." (Cl 1, 17)
Recomendo bastante que o leitor leia todo o capítulo primeiro de I Cor(I Cor 1).
"E o Verbo estava junto de Deus", Deus Filho estava com Deus Pai, Pessoas distintas, contudo, mesma substância e mesmo Deus(Jo 1, 1; Jo 10, 30; Mt 28, 19; I Jo 5, 7 Vg, etc).
Este Verbo que estava junto de Deus possuía potência operativa e diretiva ante à criação, como lê-se em Jo 1, 3.
"Estava", estava onde? 
Nalgum lugar?
Circunscritamente?
Nalgum lugar por acidente de espaço?
Não! 
Nenhuma destas alternativas!
Vede que observa Santo Hilário de Poitiers:
"Observa o mundo e vede o que está escrito acerca dele: ''No princípio, Deus criou o céu e a terra.'' (Gn 1, 1)
Num princípio foi feito aquilo que foi criado e inclui ao longo do tempo o quê no princípio está incluso, a fim de que seja criado.
Mas o pescador iletrado, sem ciência, tornou-se liberto do tempo, dos séculos, venceu todo princípio: com efeito, o Verbo de Deus era o quê é e não está encerrado em tempo algum para começar a ser o que tinha sido incluído num princípio, pois existia desde o princípio." (Tradução da Catena Áurea em Espanhol, Evangelho segundo São João/Evangelio según San Juan, Jo 1, 1, comentário de Santo Hilário de Poitiers - De Trinitate 1, 7)
"Junto de Deus", isto é, junto de Deus Pai, pois o Pai é coeterno ao Filho, este é seu genitor, pois gera o Filho intelectivamente e o segundo é gerado no âmago ou seio do Pai(Jo 1, 18c), sendo gerado, não o é no tempo, mas na eternidade.
"E o Verbo era Deus", o mesmo que Nosso Senhor Jesus Cristo afirmará de Si aos judeus, a saber, "Eu e o Pai somos um."(versículo que exporemos homileticamente após Jo 1, 1. 14)
O Verbo é consubstancial ao Pai, isto é, da mesma substância, do mesmo Ser, são a mesma realidade, assim como o é o Espírito Santo com relação ao Pai e ao Filho.
São João Evangelista está a nos falar aquilo que sempre professou a fé católica, a saber, que o Filho, embora sendo Pessoa distinta do Pai, é Deus assim como o Pai.
Transmito aqui outra homilia seleta minha acerca de Jo 1, 1 para complementarmos o que dissemos até aqui:
"I- Sobre sua relação com Deus:
"No princípio era o Verbo", aqui pergunta-se: quê Verbo era esse que estava no princípio? 
Não nos dá de um só golpe esta resposta São João Evangelista, mas veja como prossegue: "e o Verbo estava junto de Deus", ora, quem está junto não é a mesma Pessoa, portanto, o Pai não é a mesma Pessoa divina que o Filho, como salutarmente ensina a fé católica, ademais, para estar junto em sua glória intrínseca é necessário que seja consubstancial ao Pai(Deus), como diz Nosso Redentor neste mesmo Evangelho: "Eu e o Pai somos um."(Jo 10, 30), portanto, prossegue o Evangelista: "e o Verbo era Deus", vede como prossegue gradualmente, primeiramente nos diz "quando" o Verbo estava: "no princípio era o Verbo", depois nos diz com quem estava junto: "e o Verbo estava junto de Deus", depois qual é a sua essência ou natureza: "e o Verbo era Deus".
"E o Verbo estava junto de Deus", estar junto é estar com outro, Deus Filho com Deus Pai.
II- Sobre sua duração:
"No princípio era o Verbo", como assim "era", portanto, no passado? Não, entenda-se: desde toda a eternidade, portanto, sem princípio ou fim, simultaneamente, "neste princípio sem princípio", é dito na Bíblia do Pe Antônio Pereira de Figueiredo(nota de rodapé a Jo 1, 1), portanto, "era" predicado ao Verbo, por conseguinte, a Deus significa a eternidade.
Por fim, o Verbo estava desde toda a eternidade, não submetido ao tempo.
É dito em I Jo, primeira epístola de São João Evangelista:
"O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida
porque a vida se manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou."(I Jo 1, 1-2)
Vejam, caríssimos, como ele diz "o que era desde o princípio", ou seja, o que era desde toda a eternidade, "no tocante ao Verbo da vida", isto é, ao Verbo Divino, "e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou", etc, ou seja, resumindo: o mesmo que é dito no presente texto(Jo 1, 1), vejamos: "o que era desde o princípio": "No princípio era o Verbo", "no tocante ao Verbo da vida": "e o Verbo era Deus".
O último trecho não é respeitante ao presente texto(Jo 1, 1), mas ao versículo 14 do presente capítulo: 
"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade."(Jo 1, 14)
III - Sobre sua relação com Deus:
Por fim, ele diz: "e o Verbo estava junto de Deus", ou seja, como vimos, Deus Filho estava com Deus Pai, mas somente isto? o Verbo é outro que não Deus? Não, veja o que ele acresce: "e o Verbo era Deus".
O primeiro diz respeito à geração eterna do Verbo, o segundo diz respeito à relação com Deus Pai, o terceiro diz respeito à natureza ou essência do Verbo.
Vejamos a aplicação neste texto: 
I. Geração eterna: "No princípio era o Verbo";
II. Relação do Verbo Divino com Deus Pai: "E o Verbo estava junto de Deus";
III. Respeitante à natureza ou essência do Verbo Divino: "E o Verbo era Deus". (Homilias seletas,  a Jo 1, 1: sobre qual seja a natureza do Verbo, sua duração e sua relação com Deus, I-III - sobre sua relação com Deus, sobre sua duração, sobre sua relação com Deus)
"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade."
"E o Verbo se fez carne", o Verbo Divino se manifestou na nossa natureza humana, que tornou-se Sua, assumindo-a, dignificou-a: porque, lembremo-nos, nossa natureza havia sido maculada e defeccionada pelo pecado original, portanto, quando o Verbo Eterno assumiu-a, dignificou-a: não somente porque Ele é Deus, mas igualmente porque Ele é homem, perfeito Deus e perfeito homem, 100% Deus e homem, cujo não possuía quaisquer pecados(Hb 4, 15; I Jo 3, 5).
O Verbo Eterno manifesta-se neste Natal com aparente pequenez: um menino aparentemente frágil, dependente de sua Mãe, Maria Santíssima, que nasceu em uma manjedoura humilde em meio aos pastores e Reis Magos e, sobretudo, nasceu já submetido às adversidades da vida.
Entretanto, tal pequenez é apenas aparente: este dócil e à primeira vista, frágil menino, é o Senhor dos Senhores, o Rei dos Reis, o Governante do Universo, a Razão fundante do Cosmos, o Regente dos Anjos, o Filho do Deus Altíssimo, um Deus infinitamente sublime, etc, em suma, Ele é Deus mesmo, portanto, não nos enganemos pelas aparências - assim como as espécies sensíveis do pão e do vinho têm aparência de pão e vinho, mas quando transubstanciadas tornam-se Corpo e Sangue de Cristo, creiamos com igual razão que, embora o Divino Infante pareça ser frágil em todos os aspectos, repito: creiamos, que Ele é o próprio Deus.
"E habitou entre nós", mas, pergunto-me: éramos merecedores de que o Verbo Divino habitasse entre nós?
De modo algum!
Porquanto devido ao pecado de nossos primeiros pais e aos nossos pecados atuais(mortais ou veniais) que, às vezes, renovamos, éramos dignos não de recompensas, mas de condenação eterna.
Mas o Verbo Divino, como havia sido predito pela Profecia acerca D'Ele, veio; nesta profecia do bem-aventurado Legislador Moisés, lê-se:
"eu lhes suscitarei um profeta como tu dentre seus irmãos: minhas palavras porei em sua boca e ele lhes fará conhecer as minhas ordens." (Dt 18, 18)
Jesus é este profeta.
Alegremo-nos!
O Verbo Divino dignou-se, embora nós não merecessemos; dignou-se habitar entre nós.
O sentido do dito "e habitou entre nós", é este: o Verbo tomou a natureza humana e assumiu para si a responsabilidade da redenção, aceitando até o fim a Vontade salvífica do Pai.
"E vimos sua glória", vimos?
Certamente vimos!
Diz o Cristo acerca desta glória que foi vista: 
 “Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem sou e que nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou.
E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim”. (Jo 8, 28b; Jo 12, 32)
A glória de Cristo manifesta-se no Madeiro da Cruz.
Vede como o mistério da Encarnação do Verbo inverte a lógica da glória humana: para os homens a glória é aquilo que manifesta o poder e um bem no homem e para o homem, mas não algo que de algum modo lhe faz mal; já Cristo mostrou-nos o contrário: que sendo levantado no madeiro da Cruz, humilhado, tendo recebido açoites antes de ser cravado nela, tendo tido o peito aberto por uma lança, os soldados e o mau ladrão tendo caçoado D'Ele quando ainda pendia e, por fim, tendo entregado seu espírito e expirado, isto é, falecido no madeiro da Cruz; então sim! Então Ele foi glorificado, pois deu glória ao Seu Nome por ter redimido a todos os homens e deu glória ao Pai por ter cumprido obedientemente a sua vontade.
Dito isto, fica esclarecido qual seja o sentido do dito "e vimos sua glória".
"A glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade", tal glória refere-se tanto ao Filho que a recebe, quanto ao Pai que a dá; mas pode referir-se aos dois duplamente, em virtude de ambos possuírem a glória divina por essência, a "glória" dita aí é a vida íntima da Santíssima Trindade manifesta visivelmente na Encarnação do Verbo, ou seja, Nosso Senhor Jesus Cristo é a manifestação visível do Pai, conforme Ele diz em seu diálogo com o santo apóstolo Filipe, diz Ele:
"Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai?" (Jo 14, 9)
Com efeito, o bem-aventurado Filipe ainda não tendo compreendido este mistério de que Cristo é a imagem perfeita e consubstancial do Pai, inocentemente lhe fez este pedido:
"Disse-lhe Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”. (Jo 14, 8)
O Apóstolo igualmente diz, conforme já dissemos, este mistério de Deus Filho ser perfeita imagem de Deus Pai, diz ele:
"Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a Criação." (Cl 1, 15)
"Cheio de graça e de verdade", cuido que esta graça e verdade que aí vão ditas sejam equivalentes às mesmas que vão ditas no versículo 17 do primeiro capítulo de Jo:
"Pois a Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo." (Jo 1, 17)
Isto é: a graça sobrenatural da salvação e a verdade da prédica evangélica.
"Eu e o Pai somos um." (Jo 10, 30)
Este versículo tem dado lugar a sério controvérsia, não tanto por parte daqueles membros da Igreja que professam a ortodoxia católica, mas por parte daqueles hereges que de tempos em tempos, infelizmente, são suscitados no seio da Santa Madre Igreja.
Ário dizia que Nosso Senhor Jesus era uma sub-deidade e negava que este versículo comprovasse a consubstancialidade D'Ele com o Pai.
De minha parte, sigo São Tomás que em seu Comentário a Jo(tomo de Jo 9-21, capítulo 10, lectio 5, n. 1450, comentário a Jo 10, 30, Adaptado), diz:
"Como se (Nosso Senhor Jesus Cristo) estivesse a dizer: 'ninguém as tirará das minhas mãos, porque 'Eu e o Pai somos um', isto é, por unidade de essência, pois o Pai e o Filho são de uma mesma natureza."
Portanto, Ário estava errado ao defender que o Verbo Encarnado era uma sub-deidade ou um deus de menor importância, inferior ao Pai, baseava-se além doutros versículos em Jo 14, 28 - mas não entrarei nesta questão aqui.
Prossigamos a exposição homilética.
"Eu e o Pai somos um", por unidade de essência e natureza, como nota São Tomás, mas igualmente por uma igualdade de conformidade da Vontade.
E há outra igualdade que havia que foi um pouco modificada após o mistério da Encarnação do Verbo:
O Pai e o Verbo Divino eram ambos de natureza espiritual, isto é, eram Espírito, como lido em Jo 4, 24:
"Deus é Espírito." (Jo 4, 24a)
Mas quando o Verbo se fez carne(Jo 1, 14), Ele assumiu a natureza humana e não é mais puramente espiritual (Ele ainda é espiritual, mas agora possui forma sensível, corpórea e natureza humana).
Para finalizar, respondamos brevemente como o mistério da Encarnação do Verbo Divino mudou todo o curso da história:
Mudou todo o curso da história, pois agora sabemos o quanto Deus nos ama e o quanto entregou-se e sacrificou-se, "como não amar Aquele que tanto nos amou?", diz Santo Agostinho, de fato, não há como, a vontade, quando ordenada, é verdadeiramente compelida a buscar relacionar-se com este Deus tão amoroso.
Outro aspecto que decorre disto é:
Agora sabemos o quão humilde foi Deus e o quanto tornou-se vil por apropriação (não que por essência o seja), a fim de salvar a todos nós.
Alegremo-nos neste dia de Natal!(agora que escrevo é já noite, mas não importa, ainda é Natal)
Ó Verbo Divino!
 Quisestes ser um de nós, descer até nossa miséria e salvar a todos nós.
Com efeito, o Verbo Divino fez-se tão servil que rompeu a barreira que havia entre Deus e o homem; igualmente, meditemos cá conosco neste tão sublime mistério:
Um Deus se fez homem para redimir ao homem, a razão fundante do Cosmos desceu para salvar a mais vil das criaturas.
Ó sublime humildade!
Amen, assim seja.
Conclusão:
São estas as extensas, mas exaustivas palavras que quis tecer acerca deste tema homilético nesta exposição homilética.
Um feliz e abençoado Natal a todos!
Viva Cristo Rei 👑, Salve Maria Imaculada 🌹!
Oração autoral(portanto, minha) para o dia santo do Natal:
"Vinde, Verbo Divino, habitar entre nós!
 Nascei em nossas almas, a fim de que sejamos santos como Vós, não por nós mesmos, mas por Vosso Divino auxílio...
 Fazei-nos santos como Vós sois Santo...
 Vós sois o Santo dos Santos!...
Mas se nos conceder o mínimo de sua graça sobrenatural, seremos santos por participação em sua infindável santidade...
 Como diz o bem-aventurado Rei e Profeta Davi: "lavai-me de toda a minha iniquidade e purificai-me dos meus pecados e tornar-me-ei mais alvo(branco) do que a neve"...
Fazei-nos puros, Senhor, verdadeiramente santos.
Que possamos ser neste dia do mistério da Encarnação do Verbo Divino reflexos deste Verbo que habita em luz inacessível(I Tm 6, 16), mas dignou-se habitar entre nós(Jo 1, 14; Gl 4, 4), Ele que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo por todos os séculos dos séculos, amen! 🙏"






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